Kardec o Homem e a Missão

Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou simplesmente Allan Kardec, foi o codificador da Doutrina Espírita. Conheceremos melhor a vida deste professor francês em seguida mostraremos como foi seu primeiro contato com o mundo espiritual, que consequentemente serviu de marco inicial para o Espiritismo.

Hippolyte Léon Denizard Rivail
Muito se sabe sobre a vida de Allan Kardec como o codificador da Doutrina Espírita. Como educador aplicou metodologia cientifica para elaborar o pentateuco que constitui o alicerce do Espiritismo.
Pouco, no entanto, se sabe sobre o homem, o ser humano Hippolyte Léon Denizard Rivail. Seu nome era respeitado tendo publicado diversas obras de cunho pedagógico. Preocupado com as oportunidades que todos deveriam ter, propôs uma reforma no ensino público que permitiria o acesso ao saber de todos os jovens.
Sua carreira promissora conferia-lhe certamente a possibilidade de uma vida confortável  Mas sua missão exigiu dele muito mais. Adotou então o pseudônimo de Allan Kardec para que o respeito que seu nome inspirava não influenciasse a análise da "Boa Nova".
Casou-se com Amélie Gabrielle Boudet, companheira dedicada e amorosa que foi sempre estímulo e um grande apoio para que Kardec desenvolvesse seu trabalho, sua missão. Também ela soube abdicar das glórias e facilidades terrenas para acompanhar Kardec naquilo que seria uma luta travada contra preconceitos e rigores de uma sociedade que vivia para servir e atender às determinações da igreja que não admitia quaisquer questionamentos a respeito de seus princípios estabelecidos através de dogmas.
A proposta de raciocinar sobre a fé era considerada uma heresia. Vemos pelos dados biográficos já apresentados pelos seus valores morais, sua preocupação com o próximo menos favorecido, seu desprendimento material sua coragem e lucidez.
Foram tantos os embates e lutas por um ideal, por uma nova realidade que Kardec "via-se obrigado a trabalhar de manhã à noite e, muitas vezes, pela madrugada a dentro, sem mesmo poder repousar".
Levantava-se às 4:30 horas da manhã para poder dar conta dos seus muitos trabalhos. Afirma o Sr. Leymarie: " Quantas vezes soubemos de pessoas em provação que encontraram junto dele o socorro moral e, não raro, o socorro material. A respeito destas coisas ele não dizia uma palavra, ocultando no ouvido suas boas obras".
Conforme relata Anna Blakwell, Kardec " recebia amavelmente os numerosos visitantes que acorriam de todas as partes do mundo, para conversar com ele a respeito das idéias de que era o mais autorizado expoente, respondendo às consultas e às objeções, resolvendo dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava franca e animadamente".
Kardec tinha uma preocupação relacionada aos " indigentes do espiritismo". Comprou desde o inicio do Espiritismo 2.666 metros quadrados de terreno na Avenida Ségur. Esta compra esgotou-lhe os recursos. Então ele contraiu um empréstimo para construir neste terreno seis pequenas casas com jardim. " Alimentava  a doce esperança de recolher-se a uma delas, e torna-la depois de sua morte asilo que pudesse abrigar na velhice dos denfesores indigentes do espiritismo".(Sausse, Henri)
Sua missão vê-se, exigiu de Kardec muita abdicação e um esforço hercúleo que muito comprometeu sua saúde física, tendo acontecido seu retorno à Pátria Espiritual em 31 de março de 1869.
Em carta de E. Muller temos a descrição do dia de seu desencarne:
"Ele morreu esta manhã, entre 11 e 12 horas, subitamente, ao entregar um número da Revista Espírita a uma caixeiro de livraria que acabava de compra-lo; ele se curvou sobre sí mesmo, sem proferir uma unica palavra: estava morto. Sozinho em sua casa (rua Sainte-Anne) Kardec punha em ordem livros e papeis para a mudança que se vinha processando e que deveria terminar amanhã. Seu empregado, aos gritos da criada e do caixeiro, acorreu ao local, ergueu-o ... nada, nada mais. Delanne acudiu com toda a presteza, friccionou-o, magnetizou-o, mas em vão. Tudo estava acabado".
Sua missão naquela encarnação tinha terminado. Seu legado, a codificação da Doutrina Espirita, é o presente maior da Espiritualidade Superior à humanidade.
Por isso nossa eterna gratidão a este homem missionário.

Kardec e os Espíritos
Em 1855, Hippolyte Léon Denizard Rivail, professor francês de aritmética, pesquisador de astronomia e magnetismo, foi convidado por um amigo seu a ver de perto estas manifestações que ocorriam nos salões da capital francesa. Rivail era discípulo de Pestalozzi, chamado de pai da pedagogia moderna, e casado com Amélie Gabrielle Boudet. Nascido em 03 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, já ouvira sobre o assunto das mesas girantes e não entendia bem o que estava acontecendo. Homem criterioso, Rivail não se deixava levar por modismos e como estudioso do magnetismo humano acreditava que todos os acontecidos poderiam estar ligados à ação das próprias pessoas envolvidas, e não de uma possível intervenção espiritual.
O professor então participou de algumas sessões, e algo começou a intrigá-lo. Percebeu que muitas das respostas emitidas através daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural e social dos que faziam parte do "espetáculo". Como os móveis, por si só, não poderiam mover-se, fatalmente havia algum tipo de inteligência invisível atuando sobre os mesmos, e respondendo aos questionamentos dos presentes.
Rivail presenciava a afirmação daqueles que se manifestavam, dizendo-se almas dos homens que viveram sobre a Terra. Foi então, que uma das mensagens foi dirigida ao professor. Um ser invisível disse-lhe ser um Espírito chamado Verdade e que ele, Rivail, tinha uma missão a desenvolver, que seria a codificação de uma nova doutrina .
Atento aos dizeres do Espírito, e depois de muitos questionamentos à entidade, pois não era homem de impressionar-se com elogios, resolveu aceitar a tarefa que lhe fora incumbida.
O Espírito de Verdade disse-lhe ser de uma falange de Espíritos superiores que vinha até aos homens cumprir a promessa de Jesus, no Evangelho de João, capítulo XIV; versículos 15 a 26: "E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque habita convosco e estará em vós... Mas, aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito".
Através dos Espíritos, Rivail descobriu que em uma de suas encarnações anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan Kardec.
Foi então que resolveu adotar este pseudônimo durante a codificação da nova doutrina, que viria a se chamar Doutrina Espírita ou Espiritismo. Kardec assim procedeu para que as pessoas, ao tomarem conhecimento dos novos ensinamentos espirituais, não os aceitassem por ser ele, um conhecido educador, quem estivesse divulgando. Mas sim, que todos os que tivessem contato com a boa nova a aceitassem pelo seu teor racional e sua metodologia objetiva, independente de quem a divulgasse ou a apoiasse.
A Codificação
A partir daí foram 14 anos de organização da Doutrina Espírita. No início, para receber dos Espíritos as respostas sobre os objetivos de suas comunicações e os novos ensinamentos, Kardec utilizou um novo mecanismo, a chamada cesta-pião: um tipo de cesta que tinha em seu centro um lápis. Nas bordas das cestas, os médiuns, pessoas com capacidade de receber mais ostensivamente a influência dos Espíritos, colocavam suas mãos, e através de movimentos involuntários, as frases-respostas iam se formando. Julie e Caroline Baudin, duas adolescentes de 14 e 16 anos respectivamente, foram as médiuns mais utilizadas por Kardec no início.
Com o decorrer do tempo, a cesta-pião foi dando lugar à utilização das próprias mãos dos médiuns, fenômeno que ficou conhecido como psicografia.
Todas as perguntas e respostas feitas por Kardec aos Espíritos eram revisadas e analisadas várias vezes, dentro do bom senso necessário para tal. As mesmas perguntas respondidas pelos Espíritos através das médiuns eram submetidas a outros médiuns, em várias partes da Europa e América. Assim, o codificador viajou por cerca de 20 cidades. Isso para que as colocações dos Espíritos tivessem a credibilidade necessária, pois estes médiuns não mantinham contato entre eles, somente com Kardec.
Este controle rígido de tudo o que vinha de informações do mundo espiritual ficou conhecido por "Controle Universal dos Espíritos". Disto, estabeleceu-se dentro da Doutrina Espírita que qualquer informação vinda do plano espiritual só terá validade para o Espiritismo se for constatada em vários lugares, através de diversos médiuns, que não mantenham contato entre si. Fora isso, toda comunicação espiritual será uma opinião particular do Espírito comunicante.
Com todo um esquema coerentemente montado, Allan Kardec preparou o lançamento das cinco Obras Básicas da Doutrina Espírita, a Codificação, tendo início em 1857 com o lançamento de "O Livro dos Espíritos". Estes livros contêm toda a teoria e prática da doutrina, os princípios básicos e as orientações dos Espíritos sobre o mundo espiritual e sua constante influenciação sobre o mundo material.
Durante a codificação, Kardec lançou um periódico mensal chamado "Revista Espírita", em 1858. Nele, comentava notícias, fenômenos mediúnicos e informava aos adeptos da nova doutrina o crescimento da mesma e sua divulgação. Servia várias vezes como fórum de debates doutrinários, entre partidários e contrários ao Espiritismo. A Revista Espírita foi a semente da imprensa doutrinária.
No mesmo ano, Kardec viria a fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Constituída legalmente, a entidade passou a ser a sociedade central do Espiritismo, local de estudos e incentivadora da formação de novos grupos.
Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, aos 65 anos, vítima de um aneurisma. Sua persistência e estudo constantes foram essenciais para a elaboração do movimento espírita e organização dos ensinos do Espírito de Verdade.

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